terça-feira, agosto 23, 2005

Chão prometido

A dor lhe era tanta
Que não temia a morte
Sua vida indigente, sem esperança
Mostrava o quanto era forte
Seu sorriso entristecido pelo tempo
Esforçava-se em desabrochar
Seu cabelo dançava ao vento
Em todo o seu caminhar
Sua bengala era seu bastião
A companhia única
De sua longínqua solidão
Sua presença pública
Servia àquela vila pobre
Como um alicerce rígido
Contra um mundo esnobe
Que impiedosamente ríspido
Despeja diariamente de seus lares
A vida da comuna, desmilingüida
E a de cada um de seus familiares
Caminha como se fosse tudo natural
Não pretende passar aos jovens sua indignação
Contra tudo que lhe é habitual
Contra tudo que lhe causou tal situação
Sua revolta é desproporcional a seu sorriso
Tão pequeno, tão cometido
Sua indignação cerra-lhe o ciso
Ódio motivado pelo intrometido
Que invade cada lar
Em busca de vidas novas
Sem pensar no futuro do lugar
Encerrou seu vilarejo em covas
Mas ele sabe, um dia será chão prometido

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